Reflexões com minha criança interior...

Minha doce e amada criança. Como é bom lhe reencontrar diante da tela mental projetada dentro de mim, como se fosse um espelho que reunisse o eu adulto e você, o eu acho infantil. Somos a mesma pessoa. E eu te agradeço por existir. Gratidão. 

Em algum momento do passado, na infância, você criou muitas expectativas em relação a mudança que você iria enfrentar e achou que seria tudo tão maravilhoso. Mas não foi, não é mesmo? O bullying se apresentou à você quando nem se existia nome científico pra isso. Quanta dor. Quanto sofrimento. Quanta angústia. Quanta vontade de gritar, de chorar, de jorrar sua loucura aos que estavam lhe tentando abater com apenas uma idade tão pequena. Mas tão consciente de si e em respeito à sua mãe, que tanto se esforçava pra lhe criar, você calou-se. Retraiu-se. Fechou-se dentro de uma redoma de vidro impenetrável onde ali não poderia ser ofendido, achincalhado, diminuído, e passou a ser uma fera, um leão selvagem a quem quisesse ou ousasse chegar perto de você.

Claro. Você achou que realmente era culpado por tudo, inclusive por ter nascido. Achou que nunca na vida ninguem olharia pra você de modo especial, apenas com dó, e que sua vida seria para sempre dentro da redoma, fingindo ser quem você não era de fato. 

Quanta mentiras lhe contaram. Quantas crenças lhe incutiram na sua mente inocente e infantil. Crenças essas, religiosas ou sociais, onde você não seria aceito nem pela sociedade e nem por um Deus utópico e vingador. A rebeldia se instalou de vez. Mas a dor, a ansiedade, o medo e a angústia não pararam. Só cresciam, impedindo seu desenvolvimento na adolescência.

Até que se tornaram crises. No início, chamavam de crises convulsivas, diriam os médicos. Porque claro, era preciso extravasar de alguma forma tudo que você manteve fechado dentro de ti esse tempo todo. E tome remédio controlado. 15 anos dessa vida, até o eu adulto dizer: espera. Isso não pode ser orgânico. Deve ser emocional. E te fez procurar uma terapia. Quantas coisas vieram à tona, quantos sentimentos ruins, quantos choros, quantas memórias infames que até então você negava, mas sabia que era assim dentro da sua cabeça. Até aparecer a mágoa. Uma mágoa que não foi curada. Uma mágoa que você levou pra vida adulta.

Essa sua mágoa, impede que o meu eu adulto tenha uma vida normal, principalmente nas mudanças que eu desejo pra minha vida, pois lá atrás, a mudança a qual você criou tanta expectativa e foi a pior experiência da sua vida até então, com pouco mais de dez anos, te marcou tão fortemente que você não aceita novas mudanças, mesmo que faça o meu eu adulto feliz. Tiraram a sua vontade de ser feliz e você tem medo de ser feliz.

Mas eu estou aqui pra te ajudar. Quero provar à você, primeiro, que você não está mais sozinho, que o meu eu adulto está cuidando de você e tem total capacidade disso. Pode confiar. Em segundo, que vou te ensinar que podemos passar pelas provocações da vida e das pessoas, de maneira racional, sem trazer o emotivo para fora, pois nessas horas, ele só atrapalha. E terceiro, vou te provar que eu te amo tanto, que tenho tanto apreço pela sua resistência, que seremos capazes de viver em perfeita sintonia. 

Não será um caminho fácil, mas nem você nem eu fomos de desistir da vida. Aliás, amamos viver. Aperte a minha mão com força minha criança. Tenha em mim a ideia de pai que você sempre idealizou e não teve. Confie em mim, e trataremos essa sua mágoa. Da vida, das pessoas, da sociedade, e principalmente, das crenças limitantes que lhe fizeram uma lavagem cerebral impedindo de ver o quanto você era e é importante até hoje. 

Te arrego no colo se preciso for, mas te prometo, você nunca mais será maltratado, xingado, esnobado e com pena de si mesmo. Você será feliz, vai exalar felicidade, vai amadurecer, vai voltar a confiar na vida, nas pessoas certas, distienguindo das erradas, e terá tanta confiança, que tudo desaparecerá. 

Você pode tudo, minha criança. E pode viver tudo agora. De maneira sadia, de mãos dadas a mim, seu eu adulto. Seremos ótimos parceiros. Você vai ver. 

Com amor, gratidão, perdão e resiliência, do seu eu adulto...

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